31 maio 2006

Litro Y Meio

Deixando a história das origens da Irmandade das Sombras para quem tiver mais pachorra para isto e para quem tiver mais gosto em recordar factos históricos (se é que a fundação da Tertúlia é algum facto histórico), vou passar um bocado mais à frente e recordar outras coisas. É que falar de coisas sérias (a Irmandade das Sombras é séria?) chateia-me. Compreendam, devo ainda ter um bocado de sangue do Pinheiro de Azevedo: a ele também o chateava o facto de ser raptado…
Falemos um pouco de histórias dos nossos queridos Imperiais Paços do Reino Convénus Mustinto, sede da Irmandade. Situava-se na Rua Bernardim Ribeiro, nos Olivais, por trás da GNR.
Nessa casa, na altura propriedade da Minha avó, da minha tia e do meu pai, fruto de partilhas que nunca foram feitas, fundámos a nossa sede. Ora, como era eu a única pessoa da família que estava por Coimbra, era eu o detentor da chave da casa velha, podre e sem luz nem água onde nos habituámos a fazer julgamentos, a conviver (!) com raparigas e a fazer “Grandiosas Festas do Litro Y Meio” (ah, também lá fazíamos reuniões sérias onde discutíamos, essencialmente, a Praxe de Coimbra, o seu estado, como devia ser exercida e onde aprendíamos algo acerca da Praxe ou de Coimbra, algo que algum de nós sabia ou aprendera entretanto e que partilhava com os outros; ali nos aperfeiçoávamos nos conhecimentos da Coimbra que todos amávamos – amamos – e ali também partilhávamos os nossos sentimentos em relação aos nossos amores – e onde nos davam força ou nos gozavam pela nossa fraqueza inadmissível para um macho lusitano).
As grandiosas “Festas do Litro Y Meio” surgiram do facto de costumarmos, durante a Queima das Fitas, passar pelo “Pinto” (famosa tasca da alta de Coimbra, situado por trás do Museu Machado de Castro) antes de irmos para o Parque, afim de nos abastecermos das famosas garrafas de litro e meio de traçado, as quais eram escondidas nos bolsos, afim de podermos beber durante a nossa estadia noite dentro nessas fantásticas noites de copos; podíamos assim poupar algum dinheiro, que era (e é) escasso (e nessa altura os preços não eram o que são hoje – uma roubalheira que fazem a garotos que não têm espírito académico nenhum e que vêem a Queima como qualquer outro festival de rock, seja ele a Zambujeira do Mar, Paredes de Coura ou o Super Bock Super Rock). Esse costume passou a ser mais frequente durante outras alturas do ano, nomeadamente após tardadas de copos no Pinto e como companhia nos grandes saraus nos terraços da Faculdade de Farmácia (dos quais, certamente, falaremos um dia destes). A partir daí, começámos a organizar “Festas do Litro Y Meio”, que começavam com anúncios no bar da Faculdade de Economia (FEUC) e que, após as inscrições e o respectivo pagamento, continuavam com a ida ao “Pinto”, no carro do Branquinho (que, na altura, era o único de nós que tinha carro e dos poucos estudantes da FEUC) afim de comprar as garrafas encomendadas. Informo aqui que o mínimo que se podia encomendar era litro e meio por cada homem ou por cada duas mulheres. Claro está que estas tardadas de copos (ou garrafas) acabavam sempre com fortes bebedeiras e, quantas e quantas vezes, com a sua vomitadela para o telhado da vizinha ou para outro sítio qualquer.
Mais tarde, lembrámo-nos de criar a “Grande Comenda da Ordem do Litro Y Meio”, que devia ser entregue a pessoas que se distinguissem por feitos valorosos na divulgação dos valores etílicos, tendo sido o Sr. Pinto (o da tasca) o único distinguido com essa honra, uma vez que o Professor Jaime Ferreira, da FEUC, não pode comparecer para receber a comenda na altura em que foi distinguido com a mesma, ou seja, no ano seguinte. A partir daí não voltámos a distinguir ninguém, mas é um caso a pensar, a retoma da outorga dessa comenda tão querida a Deus Baco.

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