18 agosto 2014

Entrevista do Coral ao PortugalTunas

O Portal das Tunas Universitárias (www.portugaltunas.com) publicou no passado mês de Julho uma entrevista ao Mór do Coral Quecofónico do Cifão/Tuna da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (João Rocha), na qual a Tesoural Tertúlia Irmandade das Sombras é referida várias vezes.
A entrevista, que transcrevemos na íntegra e com a devida vénia, pode ser consultada na seguinte localização (clicar aqui):

"1. É inevitável: De onde vem este nome tão sui generis? Há alguma razão para tal denominação?


Para responder a esta pergunta, seria bem melhor questionar os nossos fundadores, mas vou fazer os possíveis. Sendo nós a Tuna da Faculdade de Economia, o termo "Cifrão" será óbvio, num contexto pré-euro. O cifrão era, aliás, o símbolo do curso de Economia, antes da entrada em vigor da moeda única. Quanto a Coral Quecofónico, mais não é do que o conceito de "cacofonia" estilizado numa forma algo irreverente e característica daquele que sempre foi o espírito boémio de Coimbra. Segundo consta, num ensaio, alguém perguntou como é que se havia de chamar a tuna, ao que um elemento respondeu "só se for Coral Quecofónico do Cifrão". Na altura, gerou gargalhada unânime, e comentou-se "é mesmo isso". Como podem ver, "foi mesmo isso".


2. Como se enquadra o Coral no seio tuneril da sua Academia e desde 1993, data da fundação? Que importância assumiu então a Tesoural Tertúlia Irmandade das Sombras na sua génese? E hoje?
O Coral nasceu de dois embriões, digamos assim: o primeiro, conforme é referido na pergunta, é a Tesoural Tertúlia Irmandade das Sombras (TTIS); o segundo é o hábito que os elementos desta Tertúlia tinham de fazer serenatas. Ora, pouco a pouco, os nossos fundadores foram-se apercebendo que ensaiar uns minutos antes de uma serenata não dava grandes resultados. Para além disso, havia pessoas assíduas às serenatas, cujo contributo era essencial, mas que não se enquadrava nos parâmetros praxísticos exigidos para fazer parte da TTIS.
Esta questão acabou por ser resolvida, no ano de 1993, quando foi instituído nos Estatutos da TTIS a existência do Coral Quecofónico do Cifrão como "veículo de expressão artística e cultural" da Tertúlia. Desta forma, admitiam-se elementos externos apenas para as actividades "coraleiras" e abria-se a porta para dar uma maior seriedade e qualidade às prestações do grupo de serenatas "ad hoc" que até então existia. Assim sendo, em Novembro desse ano demos início aos ensaios oficiais nos Imperiais Paços do Reino do Convénus Mustinto, a nossa Sede de então.
Como se pode perceber, o nascimento da tuna está intimamente ligado às serenatas que os elementos da TTIS levavam a cabo, e esta é, para nós, uma questão igualmente identitária, daí as actuações do Coral serem sempre (salvo raríssimas excepções) feitas de capa traçada. É esta também a razão de ser das duas canções originais mais antigas, compostas especificamente para o grupo, a "Lágrimas de Amores" (que hoje dá nome ao nosso Festival) e a "Serenata".
Hoje em dia, o Coral preocupa-se em manter uma ligação importante aos seus fundadores, continuando a aconselhar-se junto deles e a conviver com os nossos fundadores, apesar da cada vez maior diferença de idades que nos vai separando. Os "vovôs" (como lhes chamamos) são, sem dúvida alguma, parte intrínseca da nossa identidade.

3. Actualmente como se vê o Coral no contexto mais alargado do fenómeno tuneril nacional?
Sinceramente, tendemos a vermo-nos como uma espécie cada vez mais "em vias de extinção", pelo menos no que ao fenómeno tuneril nacional diz respeito. Sem querer ser ofensivo para ninguém, e lamento se alguém achar o estamos a ser, o Coral não se identifica com muitos dos actuais grupos académicos que fogem das suas raízes tradicionais, ao introduzirem metais e grandes variedades de percussões nas suas actuações de palco. Respeitamos, aceitamos, nada temos contra essa opção (já convidámos grupos com estas características para o nosso Festival, por exemplo), mas a nossa não é essa, e não me parece que nos próximos tempos isso vá mudar. Optamos, claramente, por manter uma ligação muito forte aos instrumentos tradicionais da cultura tuneril.
Será, igualmente, importante referir que, sem falsa modéstia, nos temos em boa conta e temos orgulho no que fazemos, sem, contudo, deixar de pensar que devemos sempre procurar melhorar a nossa qualidade musical e alargar o nosso cancioneiro.

4. E como vêm o actual panorama tuneril?
Julgo que esta pergunta já ficou respondida no tópico anterior. Acrescento, contudo, que é sempre bom ver a quantidade de tunas que existem e que continuam a surgir, prova de que nas academias também se procuram outras vivências para além dos livros. Nesse aspecto, julgo que é relevante frisar que, apesar de o estudo ser o mais importante, deve sempre haver tempo e espaço para outras actividades que nos enriqueçam enquanto pessoas e enquanto cidadãos. Uma tuna não tem de ser apenas "copos e guitarradas" (e, honestamente, acho que nem pode). Com os actuais programas de apoio às associações juvenis, por exemplo, os elementos de uma tuna devem ser cada vez mais responsáveis e conscienciosos das suas funções enquanto cidadãos que têm que prestar contas a terceiros. Um apoio do pelouro da Cultura de uma Câmara Municipal, por exemplo, não se consegue sem existirem actas actualizadas e contas regularizadas, entre outras coisas. 
Em suma, a quem integra uma tuna, já não basta saber tocar um instrumento ou querer apenas vida boémia: também tem que aprender a lidar com responsabilidades que, na vida futura do mercado de trabalho, farão parte do seu dia-a-dia. Se o actual panorama tuneril nacional aceitar esta realidade, então não só teremos melhores tunas (devido à crescente responsabilidade dos seus elementos) como também teremos melhores cidadãos no futuro.

5. A realização do vosso Certame "Lágrimas de Amores" é um marco na vossa história mais recente. Que projecção procuram com este vosso evento? Confina-se às tunas nacionais ou poderá ir mais além? Como o posicionam no contexto Coimbrão de certames de tunas?
O nosso Festival, que vai este ano para a sua 3ª edição, sem dúvida que é um evento do qual nos orgulhamos imenso. No entanto, não procuramos nenhuma projecção em particular com o mesmo. Procuramos, sim, alargar os nossos conhecimentos e, acima de tudo, proporcionar aos nossos espectadores um espectáculo para mais tarde recordar. Por enquanto, procuramos apenas tunas nacionais (tendo, inclusivamente, feito convites a tunas das Regiões Autónomas); talvez um dia façamos convites além-fronteiras, mas, no futuro próximo, isso não está previsto.
Face ao contexto coimbrão, acima de tudo, o que distingue o nosso Festival dos outros é o seu cariz solidário. Desde a 1ª edição que nos associamos a uma instituição de solidariedade social e grande parte das receitas revertem para a instituição. A deste ano, por exemplo, é a Comunidade Juvenil Francisco de Assis. Esta natureza solidária é algo que levamos muito a sério, especialmente nos tempos de crise que vivemos actualmente.

6. Mais uma inevitabilidade: O Coral, hoje, é mais tuna ou mais praxe? Ou seja, é mais musicalidade ou mais tradicionalidade? Porquê?
Acima de tudo, o Coral é mais musicalidade, sem, contudo, esquecer as suas raízes tradicionais. O Coral, em si, é um grupo que procura dar a conhecer às pessoas o cancioneiro tradicional e coimbrão, bem como o universo da música dita "de tuna". Já os seus elementos são livres de terem as suas visões sobre a Praxe Académica, havendo um pouco de tudo. 
Felizmente, essa não é uma das preocupações que a tuna, enquanto grupo, tem que ter. Assumimos a nossa autonomia, e respeitamos as opiniões. Só assim podemos ser a Família que apregoamos ser."

31 julho 2013

O Taxeira e o Tatonas


A cidade de Coimbra sempre foi conhecida por algumas "figuras típicas" cujas idiossincrasias e histórias, associadas ao facto de pela Academia passar gente de todo o país, se tornavam em autênticas lendas a nível nacional. 
Nos tempos que passei pela Universidade, tive o raro previlégio de conhecer algumas dessas figuras, das quais destaco o Taxeira e o Tatonas, que, infelizmente, já não se encontram entre nós, mas cuja memória perdurará muito para além das suas efémeras passagens por este "vale de lágrimas". 
Claro está que poderia aqui citar alguns outros, como o sr. Xico da Académica ou como o Coelho do Bar da AAC que quase chegou a candidato presidencial (isso mesmo, a malta quase que conseguiu as assinaturas). 
Escusado será dizer que nem o Taxeira se chamava Taxeira (creio que se chamva Raúl Carvalheira) a alcunha havia-lhe sido atribuída por, em jovem, se parecer muito com um jogador de futebol chamado Teixeira, tal como é muito bem explicado no livro "Coimbra Minha" de Camilo de Araújo Correia. Muito menos o Tatonas (Daniel qualquer coisa) se chamava Tatonas. 
Eram alcunhas de Coimbra que, por definição, depois de atribuídas, acompanhavam o titular como se de um registo oficial se tratasse. 
Comecemos pelo Taxeira. 
O Taxeira (para quem não o conheceu, que creio ser a maioria dos que aqui me leem) era um sujeito, no meu tempo já velhote, muito amigo do seu cigarro e do seu copo de fino, possuidor de uma voz peculiarmente gutural queimada pelo bagaço e pelo tabaco e que sobrevivia da bondade da malta a quem cravava "uma moedinha" ou "um cigarro" nas filas das cantinas. No Verão era também habitual vê-lo pela Figueira da Foz a apregoar o Diário de Coimbra, profissão essa (ardina) que sempre foi oficialmente a sua. 
Famosos ficaram, para todos os que por ele foram cravados, os diálogos sempre iguais que tinha com a malta: "Dá-me uma moedinha!" E, perante a nega: "Vais chumbar!" ou "Vais p'rá tropa!" ditos alto e bom som para que todos ficassem a saber quem era o forreta que ali estava. Por vezes também se ouvia um elevado número de impropérios, os quais dominava com mestria, quando um ou outro estudante o provocava com uma resposta mais "torta".  Pela minha parte, forreta e de bolsa limitada como eu era, lá tive a minha dose de chumbos e de tropa... 
O Taxeira tinha também outro grande problema, sofria enormemente de cataratas. De tal forma que era quase cego. Mas, aparentemente tinha uma memória "auditiva" razoável, pois, notava-se que reconhecia muito bem as pessoas pela voz. 
Lembro-me muito bem de, certo dia, na Av. Sá da Bandeira o Taxeira ter vindo ter comigo (certamente não por me ter reconhecido, mas por ver um vulto preto) e de me dizer "Oh pá, ajuda-me aí a atravessar a rua!". Obviamente, não só o ajudei como fiz questão que me ouvisse a voz, aproveitando para falar com ele do seu tema de conversa favorito, a nossa Briosa!  Ora, a partir daí, ganhei um amigo para a vida e, escusado será dizer que jamais voltei a ser ameaçado com chumbos ou de ser enviado para a tropa. 
E, verdade seja dita, se de chumbos ainda tive minha parte, o que é certo é que à tropa nunca fui, nem à inspecção. É bom termos amigos bem colocados! 
Passemos agora ao Tatonas: 
De figura bizarra e de alguma limitação intelectual, o Tatonas, que creio que não sabia ler nem escrever, pedia uns trocados pelas mesas dos cafés apresentando uma folha de papel no qual estava mencionado o motivo do pedido. 
As folhas tinham sempre uma letra diferente e um texto do género: "Ajudem o Daniel a..." e seguidamente vinha o motivo. Lembro-me ainda de alguns como, "comprar uma camisola que está frio", ou, "comprar pastilhas para a tosse", ou o meu favorito, "comprar o bilhete de comboio para ir à praia à Figueira". Ora, vendo eu as suas mãos cheias de moedas (nunca me pareceu que ele escondesse os ganhos nos bolsos como muitos fazem...) tive que desabafar, "Oh Daniel, mas tu já tens suficiente para a viagem" (e tinha mesmo) ao que ele responde prontamente, "Mas não tenho para comer por lá". Com uma resposta dessas até um forreta como eu desembolsa uma moedinha... 
Outra vez, vendo-o chegar com o papelito cortei-lhe as vazas mostrando a minha carteira vazia e dizendo "Oh Daniel, hoje quem precisa sou eu!" Ao que ele me responde do alto da sua generosidade: "Mas, oh doutor, quanto precisa?" E estendeu-me as moedas que tinha na mão. Ora, tendo eu recusado, imediatemente me prometeu que na Queima me ofereceria uma garrafa de tinto do bom para que os dois bebessemos. 
E o mais engraçado é que volvidos alguns anos ainda se lembrava da dívida das poucas vezes que comigo se cruzava... Fica-me ao menos o consolo que um dia, que espero não esteja para breve, tenha alguém lá "no outro lado" com quem beber um copo...

04 julho 2013

A Génese do Coral e a composição das Lágrimas de Amores

Em artigos anteriores já foi dito de diversas formas que as noites de serenatas eram uma das actividades mais acarinhadas pelos elementos da TTIS. (veja-se sobre este assunto os artigos "Do canto desafinado às noites de serenatas"; ou "Histórias de serenatas"; ou ainda "Mais histórias de serenatas")
Ora, pouco a pouco, fomo-nos apercebendo que isto de ensaiar uns minutos antes da serenata não dava grandes resultados. Para além disto, havia pessoal assíduo às serenatas cujo contributo era essencial, mas que não se enquadrava nos parâmetros praxísticos exigidos para fazer parte da TTIS.
Esta questão acabou por ser resolvida, nos idos de 1993, quando foi instituído nos Estatutos da TTIS a existência o Coral do Cifrão como "veículo de expressão artística e cultual" da Tertúlia. Desta forma, admitiam-se elementos externos apenas para as actividades coraleiras e abria-se a porta para dar uma maior seriedade e qualidade às prestações do grupo de serenatas "ad hoc" que até então existia.
Claro que, daí até à primeira actuação um largo e sinuoso caminho foi percorrido, mas não é desse que vos quero dar conta (até porque a minha memória já não mo permite).
Bom, o que é certo é que lá para Novembro desse ano demos início aos ensaios oficiais nos Imperiais Paços do Reino do Convénus Mustinto, a nossa Sede. 
Longe estávamos nós de sonhar que aquele grupo de serenatas pouco a pouco daria lugar à Tuna que hoje é, mas as coisas são como são e saber que, de alguma forma, fomos responsáveis pelo fantástico grupo que hoje com toda a propriedade tem autorização oficial para se apresentar como a Tuna da FEUC só nos pode encher de orgulho!
Como podemos ver o nascimento da tuna está intimamente ligado às serenatas que fazíamos e esta é, para mim, a principal razão de os seus elementos ainda hoje actuarem de capa traçada. É esta também a razão de ser das duas canções originais mais antigas compostas especificamente para o grupo, refiro-me às "Lágrimas de Amores" e à "Serenata".
Não me vindo à memória qualquer pormenor mais ou menos interessante da composição da "Serenata", já o mesmo não se poderá dizer das Lágrimas de Amores, história essa que passo a narrar.
Bom, a opção por canções originais esteve sempre presente, uma vez que o Brandalius já tinha composto algumas que já haviam por nós sido adoptadas. São exemplos destas, "Se eu tivesse a tua mão" (que nos acompanhou nos primeiros anos e que infelizmente caiu no esquecimento das sucessivas gerações de coraleiros) e o "Porto do meu abraço" (que na minha modesta opinião é uma das melhores composições feitas por um coraleiro e à qual nunca foi dada o devido relevo).
Mas faltava-nos um original a que pudéssemos chamar de NOSSO! E esse tardava em aparecer...
Certo dia, no meio de uma tarde de estudo em época de exames, estava eu a ouvir uma gravação de uma tuna de Santiago de Compostela tomei conhecimento do ex-libris das tunas dessa academia, falo da canção "Tuna Compostelana", e disse para mim: "ora aqui está um tema passível de explorar!" e, logo assim de chofre saiu o refrão das nossas "Lágrimas de Amores": "Tricana se algum dia o Coral/Ao passar à tua porta cantar suas lindas canções/Não te apaixones por nenhum dos seus cantores/Que nas capas os rasgões/São lágrimas de amores!"
A melodia também saiu na hora e imediatamente e como a guitarra estava sempre ao pé de mim nessas alturas, a primeira harmonização também estava feita! O problema veio depois. É que nada mais consegui...
Pior ainda, o raio da música não me saia da cabeça! Com o passar do tempo comecei a ver que a tarde de estudo já estava a ir "para o caneco", portanto, desse lá por onde desse, aquela canção tinha que ser acabada!
Nessa altura surgiu-me uma ideia luminosa: "E se eu apresentasse isto ao Brandalius? Pode ser que ele quebre o enguiço!"
E, se bem o pensei, melhor o fiz, lá fui eu direitinho a casa da Tia Cidalina falar com quem sabia mais disto do que eu.
Entrado pelo quarto do Brandalius dentro, interrompo-lhe o respectivo estudo: "Tens que ouvir isto que acabei de fazer e dizer o que achas!" e agarrei na guitarra dele e trauteei-lhe o refrão.
"Está bom, mas o resto?"
"Bom, o resto estava eu à espera que o fizesses..."
Com um ar incrédulo, o Brandalius pega na guitarra e no manuscrito e começa ele a tocar a canção, findo o refrão pára apenas uns segundos com um olhar vago e canta de de uma golfada: "Ouve tricana com atenção a nossa voz/Treme com a luz se a serenata te agradar/Manda beijos e presentes para nós" (...)
"Hum, presentes não encaixa lá muito bem..."
"Flores..." Adiantei eu com um bocadinho de receio de lhe estar a interromper o momento criativo.
"Flo-res! É isso!" e continuou "Manda beijos e flores para nós/Mas não te esqueças do conselho que temos para te dar!..."
E toca a apontar, antes que se nos varresse da memória. De seguida, voltámos a tocar a canção desde o início para ver se estava tudo bem.
"Pá, só falta mais uma quadra e temos isto feito!"
"Só se falarmos do final da serenata." Adiantei eu.
"É isso!" Mais um compasso de espera e recomeçou, agora com maior fluidez pois a melodia já estava feita:
"Durante o sono que a seguir terás/Embala os sonhos com a nossa melodia/Mas de manhã, ao acordar, tu saberás/Que esse é o Sol de um novo dia"
Ainda hoje não consigo explicar como é que naquela tarde, quase sem rasuras se compôs uma canção que hoje, volvidos vinte anos, ainda é obrigatória nas actuações do Coral. Mas, o que é certo é que ela lá está, de boa saúde, e a motivar, sempre que se toca o primeiro verso do refrão, a resposta das nossas coraletes: "O CORAL!"

11 abril 2012

Em defesa da PRAXE - texto 2

"A constituição é um pedaço de papel, as restantes leis da República,a carta de direitos do homem, dos animais, dos doentes (e muitos outros), ospactos sociais, os estatutos das associações (mesmo as pseudo-secretas os têm) são pedaços de papel. Que valor têm? O que as pessoas que as seguem lhe quiseram dar! Para quem não faz parte do estado, organização ou grupo, têm apenas valor de estudo, critica e, eventualmente, escárnio (é o que se faz ao que se desconhece). Existem porque o ser humano ainda tem um longo trilho até atingir um estado mental que ponha a razão acima de toda a animalidade (aqui ponho todos no mesmo saco, há e haverá ainda muita gente anti-isto, anti-aquilo, que não gosta só porque lhe dizem que não, que nem sequer ouve, que faz leitura selectiva, enfim que tem ego próprio e não global).
Ora se há praxe (e acreditem que nas suas múltiplas formas ela existe a par com a humanidade), a Academia Coimbrã foi regulando a sua Praxe. O que é? Um pedaço de papel? Também, mas para quem a vive, contêm meia dúzia de princípios (sim, não é muito extenso), que orientam a sua prática e permitem impedir os energúmenos de a usarem para justificar distúrbios pessoais(como o caso do coiso que bate em mulheres). Também é verdade que este código ainda poderia ser mais sintético, estar melhor escrito e ser mais feliz nos seus graus de praxe (candeeiro, porra de nome!), mas no essencial, ou seja, o respeito pelo estudante de Coimbra, está lá tudo. Não é concerteza por acaso que isto acontece em Coimbra (a capital por natureza do sentido crítico, da questão e dos princípios), o dito código, o tal papel, sofreu evoluções, tal como a academia em que gira, mas manteve princípios básicos, infelizmente não acompanhados por pelas academias futricas do resto do país. É a falta, noutros lados, destes princípios que permite toda uma série de abusos, já aqui relatados, e rejeitados quer pelos anti-praxistas, quer pelos praxistas coimbrões, quer por toda a gente de bom senso. Faço apenas um parêntesis para reforçar que, se a malta se ouvir um bocadinho, vai ver que as diferenças de pensamento não são assim tantas.

Há dois princípios base na praxe coimbrã. O primeiro, vem de sempre, que é o já famoso homem praxa homem e mulher praxa mulher. Isto coloca as hormonas ao lado da praxe e pretende impedir, por exemplo, a coação sexual (ainda assim há quem não perceba, mas para isso temos as punições da praxe e, sobretudo, o Código Penal da República). O segundo, em parte mais recente, é o respeito pelo corpo, pelo físico. Está impedida desde sempre aquela parvalheira, corrente em muitos estabelecimentos de ensino superior, de pintar o corpo, quantas vezes com requintes sádicos de tintas que não saem com a lavagem. Pessoalmente, foi este pequeno detalhe/pormenor que me trouxe à praxe coimbrã. Vi muitas vezes esta prática abjecta no estabelecimento de ensinosuperior da cidade em que cresci e sempre a considerei desprezível, quandocheguei a Coimbra e me deram a conhecer os seus princípios base, fiquei chocado, afinal aquilo com que não concordava não era praxe, logo não foi difícil entrar neste barco. Mas não são só as pinturas, toda caçoada que implique agressão física, risco físico ou de saúde já foi posta de parte (aqui, obviamente mais recentemente, 20/30 anos, pois em tempos idos era duro), reflectindo a evolução de princípios básicos e respeito pela dignidade humana.Enfim, ficou a tal meia dúzia de princípios básicos e outra meia dúzia derituais iniciáticos e de relacionamento entre todos aqueles que, LIVREMENTE, queiram aderir a esta PRAXE.

Esta PRAXE, porque nasceu e vive num sítio especial, COIMBRA, que já era humana, conseguiu evoluir e estar, portanto, acima das praxadelas que pululam por outros lados. Infelizmente, porque Coimbra é o berço da praxe estudantil, quando há quem faça asneira com a praxe (seja em Chaves ou em Faro) todos pensam logo nesta academia e nesta cidade. Pior, como raramenteestas coisas acontecem por cá, quando um frustrado comete um crime e bate emmeninas, os olhos todos se viram em forma acusatória e inquisitória. E aqui, infelizmente, o órgão responsável, apenas naquele papel que “não vale nada”, poderia ter tido uma outra postura, agindo de imediato contra o agressor, nãopenalizando a PRAXE. Felizmente ainda está a tempo de mudar. É o problema de o DUX em Coimbra também ser diferente dos outros (as coisas evoluíram igualmente e não tem que ser o veterano de mais matriculas, desculpem a repetição, mas hágente que se recusa a ler o que os outros escrevem), tem poucas matrículas,talvez se tivesse mais matrículas agisse com punho mais forte (preso por tercão e por não ter). Ainda assim, prefiro também esta particularidade da PRAXE coimbrã. Os restantes veteranos lá estarão para o apoiar e para colocar a praxeno seu lugar.

Por último um comentário sobre os graus hierárquicos, a talestratificação da praxe. Caros detractores da PRAXE coimbrã, aquilo resolve-seapenas em três anos. Com Bolonha, ao fim de 3 anos e 1 dia, temos veterano/a. Nenhum déspota o seria se soubesse que só seria “superior” por 3 anos. É outra virtude da PRAXE coimbrã. Além de todo o respeito pelo ser humano, mesmo a hierarquia estudantil morre ao fim de 3 anos (na praxe só é fixa a hierarquia académica/docente, mas nunca vi ninguém a questioná-la, porque será?). Não percebo tanta perturbação que esta pequena estratificação, temporária, quandoem muitas entidades, mais o menos legais, mais ou menos secretas, existemhierarquias ou permanentes ou de mutação muito longa e rígida. Estou, porexemplo, a lembrar-me da relação entre os professores catedráticos e os seus assistentes, ou mesmo a postura de muitos assistentes (e alguns, poucos, catedráticos) para com os alunos.

Enfim, se em vezes de se querer “matar” a PRAXE de Coimbra, se olhasse para todos os seus pontos positivos, poderia usar-se como exemplo deevolução para todas as praxadelas, ditas académicas, que rodam pelo resto do país. Poderia dizer-se “botem os olhinhos em Coimbra e no que aqueles moços e moças fazem”. E, acreditem, a PRAXE coimbrã irá continuar a evoluir num sentido cada vez mais humanista. É estando dentro da praxe que consegui mobilizar pessoas que têm pontos de vista comuns e que conseguimos juntos arrepiar caminho. É dentro da praxe que a fazemos caminhar e impedir a sua imutabilidade. Criticando-a também conseguimos fazê-la pensar. Tentar matá-la só vai originar radicalismo e prejudicar todos aqueles que vão fazendo um bom trabalho. Volto a uma das minhas ideias chave, Coimbra é simultaneamente a cidade e a académicamais humanista deste país, portanto a sua PRAXE só pede beber da mesma fonte.

Finalizando, pelo que me apercebo quem essencialmente faz asneiras/praxadelas não é de Coimbra e quem mais ataca a praxe também por cá não andou ou viveu. Passem cá uns seis meses e misturem-se nesta cidade (seja em que vertente for, praxe, anti-praxe ou a dos que se estão marimbando, verão que no fim estão diferentes!).

Eu posso dizer que vivi esta cidade, fui e sou (saudosamente) praxista, estive na sua dinamização, frequentei repúblicas (grandes noitadas de discussão), estive nas lutas académicas dos meus anos, trouxe e levei experiências, ganhei e reconheci respeito."



publicado no fórum em 08/04/2012

Em defesa da PRAXE - texto 1

"Estou a ler esta interessante amálgama de opiniões. Permitam-me a intromissão e um pequeno comentário.

Houve um abuso! Este, entre outras coisas, foi um acto cobarde, praticado por um energúmeno, do sexo masculino, sobre uma pessoa do sexo oposto. Aparentemente o coiso (tenho dificuldade em encontrar nome para lhe chamar) não gostou que duas caloiras, devidamente informadas, se manifestassem contra uma parvalheira que andava a fazer. Em resposta atacou fisicamente as mesmas.

Ora na praxe coimbrã (como aqui vi escrito) homem não praxa mulher e ninguém pode ser obrigado a aderir à praxe. Assim, podemos dizer que estamos diante de três enormes falhas cometidas pelo quadrúpede mental: 1 -praticou um crime de ofensa à integridade física, devidamente previsto no código penal; 2 - praticou vários atropelos à praxe, nomeadamente a tentativa da sua prática sobre o sexo oposto e a aplicação de violência física; 3 -desrespeitou todo e qualquer princípio de boa educação e civismo (porque esta não tem que estar legislada ou escrita, é de bom senso, é o que realmente permite evitar que nos matemos uns aos outros gratuitamente).

Quando este ET humano invocou a praxe para justificar osseus actos de estupidez não foi diferente de outros que tais que usaram (e usam) Marx e Engels para criar os famosos goulag, ou outros que justificam o assassínio de mulheres à pedrada com o Alcorão, ou outros que justificaram a inquisição com a doutrina da Bíblia Sagrada (já não falo das justificações do dito mundo capitalista, por esses não disfarçam, é mesmo pelo dinheiro).

Pelo meu modo de ver foi praticado um crime que deve ser severamente punido pela lei (a mesma dos policias maus que batem em inocentinhos). Foi praticada uma infracção à praxe que deve ser punida com a exclusão definitiva da praxe, com um reconhecimento nos anais da praxe como res nullius, coisa nenhuma (se queria dar nas vistas, que o seja), mas que nunca deverá ser punida com a suspensão da praxe, premiando a mediocridade dos infractores.

No decorrer do debate a que aqui assisto verifiquei o civismo do autor e da generalidade dos comentadores, vejo, no entanto, com preocupação o fogo empalador das palavras de um Flávio, que apela à revolta contra os que pensam de forma diferente, que apela às dignas repúblicas a saída às ruas (será uma reencarnação de um baixinho de bigode que gostava de viver rodeado de loiros, altos, entroncados e de olhos azuis? ou então de um grande inquisidor do santo ofício?). Muito estranho de quem muito provavelmente defende as cores da bandeira do arco-íris. Meu caro senhor, o mundo é mesmo a cores e por isso é que é bonito (até aqui quero marcar a diferença, contra o que acabo de escrever, eu fico-me por um mundo a preto e branco, mas apenas pelo meu amor à Briosa, lol), era o que faltava proibir a diferença, lembro este cliché, “é proibido proibir”.

Por fim apelo ao MCV que puna devidamente o prevaricador, que não se escude sobre a necessidade de provas judiciais (porque, acreditem, elas virão muito, muito, lentamente) e que reponha a praxe no seu devido lugar. Os veteranos que se reúnam e devolvam o seu a seu dono (mobilizem-se).

Ainda voltando à inquisição, ao senhor baixinho e de bigode e outros que tais, lembro como todos eles transformavam detalhes e erros de terceiros em grandes justificações para promover a sua “democracia” e a sua “verdade” e com isso erradicar aquilo que os incomodava, muitas vezes apenas, porque os chateavam, porque não se calavam, porque eram diferentes. A verdade é que, no fim, os atacados estavam mais fortes. Acreditem, no fim a PRAXE estará mais forte. Quem a respeita continuará a segui-la, quem não a quer ficará de fora por direito próprio, quer a quer usar (tal como o energúmeno violentador de mulheres) para justificar as suas frustrações perceberá que isso terá consequências graves, na lei e na PRAXE.

Enfim, isto tinha-se resolvido se na altura certa o papá ou a mamã tivessem dito não ao menino (mas isto é outra estória …)"


publicado no fórum em 06/04/2012


Comentário na discussão

O ATAQUE À PRAXE

Desde o início deste blogue, que já leva alguns anos, que, como fundador da TTIS, pretendo aqui colocar algumas das minhas, antigas e, felizmente, também recentes, vivências por Coimbra. Contingências diversas têm levado ao adiar desse desejo (que ainda se quedará adiado).
Sucede que, por força de um ataque fisico cobarde a duas alunas da UC, foi espoletado um violento ataque à PRAXE da Academia Coimbrã. Foi confundido um caso sério de policia, devidamente tipificado no Código Penal, com a PRAXE. É óbvio que esta, através do MCV, também deve agir sobre o individuo, o que não deve é a PRAXE em si ser ostracizada ou confundida com a alma errante que cometeu tal despeito.
Em vários fóruns tem sido debatida a questão, mas num em particular começaram a surgir posições radicais que urgia rebater. Até porque acredito que o próprio autor e muitos dos detractores da praxe que por lá polulam não tinham/têm noção das particularidades da PRAXE coimbrã.
Deixo, por isso, dois textos que publiquei no referido fórum (este decorre no facebook, ou livro das caras, deixo também o atalho de ligação no fim do do primeiro texto).

Saudações académicas e praxistas.
Victorius Mathus

07 janeiro 2012

Vinte Milénios, parabéns!!!

Apesar da história não ter registado com precisão a data em que foi fundada a Tesoural Tertúlia Irmandade das Sombras, é dado como certo que foi nas primeiras semanas de Janeiro de 1992, que se fez a sua reunião inaugural. Desde então, vinte milénios se passaram, para nós.
É uma data avassaladora. Desde então muito Mondego passou a Ponte de Santa Clara. Alguns dos que então fundaram a Tertúlia já dela saíram, outros entraram.
Os que ficaram fortaleceram os seus laços: partilhamos, nos anos loucos da Faculdade, as experiências e vivências que são hoje as nossas memórias. Estivemos nos rasganços uns dos outros. Passamos de jovens a adultos.
À medida que os cursos foram terminando, fomos rumando a novos rumos geográficos, criamos novas famílias e delas nasceram novas vidas que hoje nos absorvem. Não me refiro apenas às nossas novas vidas profissionais, mas aos já quase dez herdeiros que, entre todos, fomos gerando (para que esta frase não levante dúvidas, cada um desses herdeiros é de apenas um de nós, frutos de casamentos à antiga - leia-se heterosexuais). Mas esses novos rumos não nos fizeram perder o rumo uns dos outros. Estivemos nos casamentos uns dos outros e, passado tanto tempo depois de se ter esgotado o tempo que partilhamos em Coimbra, ainda continuamos a reunir-nos: se possível em corpo, álcool e alma, senão, via telemóvel, blogues e-mail e facebook.
Vinte milénios se passaram para nós; muitas amizades se perderam e muitas se criaram; novas tecnologias apareceram; até o português já se escreve de forma diferente da de então. Mas a fraternidade que nos une, mantém-se viva e, se tem alguma interrogação, é sobre como se irá solidificar nos próximos vinte mil anos.

PARABÉNS IRMANDADE DAS SOMBRAS!!!

10 agosto 2011

Convocatio Conselho de Águias

In nomine solenissima et semper potentisima PRAXIS, convoco os Águias da Tesoural Tertúlia Irmandade das Sombras para um Conselho de Águias, a decorrer no próximo dia XX de Agosto do ano de MMXI, nos Imperiais Paços do Reino do Convénus Mustinto, que como todos os Águias sabem, se passará a situar a partir daquela data e por tempo indeterminada na cidade da Guarda.

A ordem de trabalhos é a seguinte:

0.º - Beber um copo;

1.º - Entrega do símbolo da TTIS pelo Águia Real ao dono dos novos Imperiais Paços do Reino do Convénus Mustinto;

2.º - A TTIS no Século XXI;

3.º - Análise da possibilidade de Marcação de um Conselho de Irmãos;

4.º - Atribuição do grau de "Gordus Nauseabunts" a diversas figuras;

5.º - Oposta de alteração das regras eleitorais;

6.º - Eleições;

7.º - Planeamento das comemorações dos XX milénios da TTIS;

8.º - Decisão sobre a forma de utilização do endereço electrónico ttirmandadedassombras@gmail.com ;

9.º - Decisão sobre atribuições da "Grande comenda da ordem do litro y meyo”;

10.º - O que mais vier à cabeça até lá.

Imperiais Paços do Reino do Convénus Mustinto, Forjães,

XXVII de Julho de MMXI

Aquilae Realis

Georgius Brandalius


15 junho 2011

Histórias com gebos 2.

Aqui há tempos atrás escrevi um artigo dedicado a gebos. Ora, como gebos era o que mais pululava na FEUC, houve logo quem saísse em defesa dos da sua classe (quiçá as histórias que contei fossem até acerca de quem interveio contra a Irmandade das Sombras e contra mim pessoalmente) e o artigo foi dos mais comentados deste blogue, tendo nós tido até necessidade, a partir daí, de fazer moderação de comentários, pois um comentário de gebo… nada tem de engraçado, irónico, ou construtivo: é da baixeza do nível da sua inteligência e nós, como cavalheiros da Praxe que somos, não gostamos desse tipo de baixeza num blogue de referência como este.
Mas foi tal o sucesso e havia tantas histórias para contar sobre grandes gebos que conhecemos na FEUC, que aqui vou deixar mais algumas registadas.
Havia lá na FEUC, nos anos 90 e princípio dos anos 2000, um cidadão bronzeado e de cabelo encaracolado, natural e nacional de Moçambique, que não primava pela inteligência. Ora esse amigo era de um curso onde a matemática era pouca e os trabalhos e apresentações de aulas eram muitos e estava um dia a apresentar uma aula sobre um assunto que desconheço; acontece que, nessa altura, ainda os computadores portáteis eram raros e caríssimos e ainda os cachopos não faziam birra por um telemóvel novo, mais bonito ou topo de gama, e o mesmo acontecia com os PC, que eram quase todos de secretária e não se podiam levar para as aulas, e o que de mais moderno havia na altura para fazer uma apresentação mais bonita e mostrar que havia ali muito trabalho era através da utilização de acetatos. Como este blogue perdurará pelos séculos dos séculos (mesmo não sabendo nós quantos séculos serão esses “séculos dos séculos”, pois uns dizem que o mundo está para acabar breve devido ao aquecimento global e outros falam antes de arrefecimento global), convém explicar às gerações vindouras como funcionavam os acetatos: eram umas folhas transparentes com algo escrito ou desenhado que era posto em cima de um foco de luz e que era, através de um espelho, orientado para onde quiséssemos, de maneira a que o que estava no acetato era projectado para uma parede para todos vermos aquilo e em ponto grande. Decidiu então o nosso amigo levar uns acetatozinhos para uma aula que ia apresentar e não é que uma mosca matreira decidiu, sem autorização do nosso amigo, poisar-lhe num acetato, ficado a sua sombra projectada na parede? O nosso amigo, furioso com tal ousadia por parte do insecto, em vez de se virar para o local onde a mosca estava (em cima do acetato) para a espantar, vira-se para o local onde a sua sombra era projectada (a parede) e, agitando os braços para a espantar, exclamou, provocando o riso de todos os seus colegas: “Xô mosca! Xô mosca! Mosca má!”.
De outra vez, este nosso amigo foi encarregue de escolher um artigo de jornal para uma cadeira de Sociedade Portuguesa Contemporânea e apresentar esse artigo na aula. Ora o nosso amigo pegou num artigo qualquer sobre as crianças de Moçambique e foi apresentá-lo; a professora quando o começou a ouvir, interrompeu-o:
- Ó R. mas esse artigo não é sobre a sociedade portuguesa…
Ele, vendo que tinha metido o pé na argola, começou:
- Sabe, professora, eu li este artigo e o artigo era tão lindo…
- Mas ó R. pode ser lindo, mas não é sobre o assunto que estamos a estudar, que é a sociedade portuguesa contemporânea!
- Pois é, professora, mas o título era tão belo, que eu achei que se me tinha conquistado a mim, também ia conquistar a professora…
Mais uma risada na aula e não sei o desfecho desta história.
Numa outra aula, discorria o Boaventura sobre um assunto qualquer que não nos diz respeito, quando fala que se atribuía a certas raças, certas características e que, por exemplo, aos pretos era atribuído um sexo maior do que o das outras raças. O R., que estava ao lado de uma moça branca que o encantava, vira-se para ela e diz-lhe:
- Estás a ver, M., ainda mais um negro assim alto que nem eu!...
Outro dos grandes gebos da FEUC era um companheiro proveniente dos arredores de Coimbra e que era grande apoiante do Partido Socialista. Esse indivíduo tinha uma voz um bocado grossa e assemelhava-se àquelas vozes distorcidas na televisão, quando quem está a falar para as câmaras não quer que o reconheçam. Falava então com a sua voz grossa e lenta e gostava de falar principalmente para com aquela população com quem tinha menos hipóteses: a população feminina!
Era normal vê-lo no bar da faculdade a chegar a mesas onde havia raparigas que não conhecia de lado nenhum e dizer com a sua voz de monstro das cavernas, lenta e arrastada:
- Olá! Eu sou o H.! Posso-me sentar?
As raparigas, por delicadeza ou por atrapalhação (ou até por medo, pois ninguém sabia se ele era perigoso ou não, pois nunca ninguém falou com o médico dele), diziam-lhe que sim e ele lá se sentava, ficando ali calado a olhar para elas até que elas lá se decidiam ir embora.
Noutra ocasião, consta que entrou na biblioteca da FEUC, que estava cheia, pois seria época de exames, chegou-se ao pé de uma moça que não conhecia e ficou especado em pé, ao lado dela, a olhar para ela e para o que ela estava a fazer; como ela olhasse para ele, para ver o que é que ele queria, ele disse:
- Hummm… Olá! Estás a estudar matemática 2?
- Estou… - respondeu ela, sem saber se ele era maluquinho ou outra coisa pior.
Silêncio…
-Hummm… Eu sou o H..