No ano de 1990 efectuei a minha primeira matrícula na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC) e verifiquei que essa Faculdade vivia simplesmente sem saber o que era a Praxe Académica de Coimbra. Teria talvez, bem escondidos debaixo de algum canteiro ou debaixo das mesas do bar, alguns elementos que soubessem o que era, como se praticava e como se regia a Praxe, mas à luz do dia esses senhores nunca apareceram.
Em função disso toda a Praxe praticada naquela Faculdade se resumia a actos que estavam desenquadrados do espírito Coimbrão ou que, pior, eram inacreditáveis atentados à tradição Coimbrã.
Era o que eu defino como um autêntico estado de Nula Praxis.
Há, no entanto, uma excepção que me cabe referir. Ocorreu no dia do Cortejo da Latada de 1990, à frente do Café Madeira onde se concentrava por tradição a malta da FEUC fazendo uma coluna que ía desaguar na Praça de D. Dinis para se juntar ao cortejo da Universidade. Nesse dia e nesse local, um doutor – e a Praxe designa por doutores todos os estudantes a partir da sua segunda matrícula na Universidade – fez subir a um muro elevado um caloiro, para que lêsse, alto e bom som, do código da Praxe, os artigos que diziam que aos semiputos (os doutores mais novos) apenas era permitido mobilizar um caloiro de cada vez e mesmo assim tendo a capa sobre os ombros e a pasta académica nas mãos; e que aos putos (os doutores mais novos a seguir aos semiputos) só era permitido mobilizar dois caloiros. Não sei se a leitura terminou por aqui ou se ainda se estendeu por mais detalhes e, infelizmente não me lembro do nome desse doutor que gostaria aqui de deixar gravado para a posteridade (lembro-me apenas que era de Vila Nova de Famalicão e era puto nesse ano). Com este extraordinário momento quis esse doutor ensinar, a todos os que o souberam interpretar, que a Praxe não é uma bandalheira e que cada um tem regras a cumprir se a quiser honrar (e para quem não saiba, pelo menos naquela altura o Código da Praxe de Coimbra impunha obrigações até ao Magnífico Reitor da Universidade e ao Dux Veteranorum).
Mas, voltando à questão, foi neste estado que defini como Nula Praxis que encontrei a FEUC quando lá cheguei e o efeito que isso teve sobre mim foi devastador. Fui para Coimbra na expectativa de me embrenhar num fantástico mundo cheio de mística. Encontrei uma Praxe codificada – em algum momento do primeiro trimestre de aulas já conhecia melhor o Código da Praxe do que todos os meus amigos de anos anteriores ao meu – que determinava deveres e obrigações e uma conduta de respeito mútuo entre todos os estudantes – incluindo os caloiros. Mas ao mesmo tempo encontrei a dura realidade em que poucos eram os que conheciam essa Praxe da qual eu gostava e em que os que a praticavam esporadicamente – e provavelmente por causa disso – praticavam-na de forma abastardada.
Tanto bastou para que, exercendo o meu direito à diferença – o qual ainda hoje continuo a exercer noutras vertentes da minha vida – começasse a exercer a Praxe de uma forma rigorosa e constante e ignorando os muitos que à minha volta me começavam a catalogar de louco – porque a diferença tem a tendência de ser rotulada, por muitos dos que constituem a turba que não gosta de sair da massa disforme do anonimato. Este exercício fez-se particularmente notar a partir de Maio de 1991 (lembro-me de qualquer pergunta entre escandalizada e jocosa de algum professor ao ver-me comparecer a um exame de Capa e Batina).
Acontece que neste mesmo contexto cronológico-espacial coincidiu que várias pessoas começaram a trilhar este mesmo caminho de rigor praxístico. Não vou escrever aqui os seus nomes pois perdi o contacto com algumas delas e não sei se lhes pode ser prejudicial a sua nomeação, mas em todo o caso aqui ficam as iniciais que nós, os que vivemos aqueles tempos, sabemos identificar facilmente: entrados na Universidade em 1990 CJ, TC, FDM, VM, JB e em 1991 JR e CB.
Entre estas pessoas não havia qualquer ligação prévia, nunca houve uma qualquer conversa, nunca houve concertação de nenhum tipo; simplesmente cada um por si tomou uma opção pessoal de começar a usar Capa e Batina quase diariamente, a mobilizar caloiros fora dos períodos das festas, a entrar em trupes com os colegas de outras faculdades e dessa forma a começar a mudar o estado de Nula Praxis, para o estado de Dura (mas leal) Praxis. Logicamente que o destino não demorou a fazer com que, num processo que não descreverei agora, nos tivéssemos juntado no que acabou por ser o núcleo duro que fundou a Tesoural Tertúlia Irmandade das Sombras que, sendo, como dizem os seus estatutos, uma irmandade de sombras, foi, é e será uma associação de pessoas que gostam e praticam a Praxe dentro do verdadeiro espírito da Praxe Coimbrã.
Em função disso toda a Praxe praticada naquela Faculdade se resumia a actos que estavam desenquadrados do espírito Coimbrão ou que, pior, eram inacreditáveis atentados à tradição Coimbrã.
Era o que eu defino como um autêntico estado de Nula Praxis.
Há, no entanto, uma excepção que me cabe referir. Ocorreu no dia do Cortejo da Latada de 1990, à frente do Café Madeira onde se concentrava por tradição a malta da FEUC fazendo uma coluna que ía desaguar na Praça de D. Dinis para se juntar ao cortejo da Universidade. Nesse dia e nesse local, um doutor – e a Praxe designa por doutores todos os estudantes a partir da sua segunda matrícula na Universidade – fez subir a um muro elevado um caloiro, para que lêsse, alto e bom som, do código da Praxe, os artigos que diziam que aos semiputos (os doutores mais novos) apenas era permitido mobilizar um caloiro de cada vez e mesmo assim tendo a capa sobre os ombros e a pasta académica nas mãos; e que aos putos (os doutores mais novos a seguir aos semiputos) só era permitido mobilizar dois caloiros. Não sei se a leitura terminou por aqui ou se ainda se estendeu por mais detalhes e, infelizmente não me lembro do nome desse doutor que gostaria aqui de deixar gravado para a posteridade (lembro-me apenas que era de Vila Nova de Famalicão e era puto nesse ano). Com este extraordinário momento quis esse doutor ensinar, a todos os que o souberam interpretar, que a Praxe não é uma bandalheira e que cada um tem regras a cumprir se a quiser honrar (e para quem não saiba, pelo menos naquela altura o Código da Praxe de Coimbra impunha obrigações até ao Magnífico Reitor da Universidade e ao Dux Veteranorum).
Mas, voltando à questão, foi neste estado que defini como Nula Praxis que encontrei a FEUC quando lá cheguei e o efeito que isso teve sobre mim foi devastador. Fui para Coimbra na expectativa de me embrenhar num fantástico mundo cheio de mística. Encontrei uma Praxe codificada – em algum momento do primeiro trimestre de aulas já conhecia melhor o Código da Praxe do que todos os meus amigos de anos anteriores ao meu – que determinava deveres e obrigações e uma conduta de respeito mútuo entre todos os estudantes – incluindo os caloiros. Mas ao mesmo tempo encontrei a dura realidade em que poucos eram os que conheciam essa Praxe da qual eu gostava e em que os que a praticavam esporadicamente – e provavelmente por causa disso – praticavam-na de forma abastardada.
Tanto bastou para que, exercendo o meu direito à diferença – o qual ainda hoje continuo a exercer noutras vertentes da minha vida – começasse a exercer a Praxe de uma forma rigorosa e constante e ignorando os muitos que à minha volta me começavam a catalogar de louco – porque a diferença tem a tendência de ser rotulada, por muitos dos que constituem a turba que não gosta de sair da massa disforme do anonimato. Este exercício fez-se particularmente notar a partir de Maio de 1991 (lembro-me de qualquer pergunta entre escandalizada e jocosa de algum professor ao ver-me comparecer a um exame de Capa e Batina).
Acontece que neste mesmo contexto cronológico-espacial coincidiu que várias pessoas começaram a trilhar este mesmo caminho de rigor praxístico. Não vou escrever aqui os seus nomes pois perdi o contacto com algumas delas e não sei se lhes pode ser prejudicial a sua nomeação, mas em todo o caso aqui ficam as iniciais que nós, os que vivemos aqueles tempos, sabemos identificar facilmente: entrados na Universidade em 1990 CJ, TC, FDM, VM, JB e em 1991 JR e CB.
Entre estas pessoas não havia qualquer ligação prévia, nunca houve uma qualquer conversa, nunca houve concertação de nenhum tipo; simplesmente cada um por si tomou uma opção pessoal de começar a usar Capa e Batina quase diariamente, a mobilizar caloiros fora dos períodos das festas, a entrar em trupes com os colegas de outras faculdades e dessa forma a começar a mudar o estado de Nula Praxis, para o estado de Dura (mas leal) Praxis. Logicamente que o destino não demorou a fazer com que, num processo que não descreverei agora, nos tivéssemos juntado no que acabou por ser o núcleo duro que fundou a Tesoural Tertúlia Irmandade das Sombras que, sendo, como dizem os seus estatutos, uma irmandade de sombras, foi, é e será uma associação de pessoas que gostam e praticam a Praxe dentro do verdadeiro espírito da Praxe Coimbrã.
5 comentários:
Sim senhor.
Eu não conhecia essa hitória do caloiro a ler o CP para os doutores na parte dos artigos referente às mobilizações.
Uma ideia brilhante (daquelas que gostaríamos de ter tido).
Já agora e para terminar, creio que a abreviatura CB me diz respeito; se assim é, muito obrigado por me colocares junto de tão ilústres praxistas.
Sim tu és o CB e não tens de agradecer. Gostaria que se alguém se lembrasse de mais pessoal que avise, eu só me lembro destes.
Penso que na sequência deste artigo se pode passar para a célebre reunião inaugural, a não ser que mais alguém queira ainda acrescentar mais dados introdutórios.
Eu até escreveria algo sobre essa célebre reunião inaugural, mas, como sabes, não estive presente.
Apenas fui convidado para a segunda e, por isso, não fiz parte do "Núcleo Fundador" da TTIS.
Eu ainda me lembro de algumas coisas mas vamos esperar a ver se o Batinae tem algum registo histórico.
Um destes dias começo a pensar no assunto.
Ora bem
O presente comentário serve apenas para testar se todos os elementos da TTIS estão definitivamente a receber no conforto da sua caixa de correio electrónico, os comentários colocados no nosso Blogue.
Agradecia que respondessem para a nossa ML a confirmar a recepção.
Grato pela atenção.
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