14 abril 2006

Os mitos dos ignorantes - I parte - Uso da Capa e Batina

O nosso querido Batinas no seu artigo "Minha entrada como fundador" escreveu que "No início, antes de eu me aperceber de quem é que percebia de Praxe, fui seguindo os ensinamentos dos ignorantes (...)", o que me serviu de mote para começar a escrever textos para revisitar os vários mitos que eram difundidos naqueles tempos como autênticos dogmas de Praxe, acrescentando a sua desmistificação.
O primeiro e o mais comum, era exactamente aquele que ele próprio referiu: o caloiro só podia usar Capa e Batina a partir da latada (e em algumas versões só na Queima).
Também eu fui uma das vítimas deste mito sem pés nem cabeça, tendo vestido pela primeira vez Capa e Batina na quinta feira da Serenata Monumental de 1991, tendo-me dado ao cuidado, para seguir à risca os passos indicados pela versão do mito que me transmitiram, de só traçar a Capa ao soar dos primeiros acordes daquela Serenata.
A grande contradição deste mito é que tendo a Capa e Batina surgido num determinado contexto cronológico em que era o 'uniforme' de todos os estudantes, sendo inclusivé obrigatória a sua utilização por todos os alunos da Universidade de Coimbra, não fazia sentido que a Praxe - e a Praxe não é mais do que um sistema em que se cristalizaram todos os usos e costumes da academia - viesse no século XX a proibir a sua utilização por qualquer estudante.
Relativamente às versões nas quais a um caloiro era permitido usar Capa e Batina, sem contudo poder traçar a capa (razão pela qual ao soar os primeiros acordes da Serenata, o caloiro deixando supostamente de ser caloiro poderia, portanto, passar a traçar a capa) são ainda mais fáceis de desmistificar, na medida em que a capa é a componente que nos permitia agasalhar-nos, sobretudo nas frias noites de Coimbra, sendo o acto de a traçar análogo ao do apertar de um casaco, nos trajes civis. Negar a um caloiro o direito de se agasalhar com aquela que era a sua roupa - obrigatória, em determinado contexto cronológico - seria uma loucura, mesmo tendo em atenção que os caloiros deveriam obrigatoriamente estar em casa até às 18 horas da noite, no tempo em que o uso da Capa e Batina pelos estudantes era obrigatória.
Acresce ainda, que o momento em que o caloiro deixa de o ser não é no início da Queima das Fitas mas sim no dia do Cortejo (o que faz cair por terra que o momento em que pudesse passar a traçar a capa fosse o do início da Serenta) e que, por outro lado. o Código da Praxe proíbia expressamente aos caloiros, apenas e só, que usassem - e até que tocassem - a Pasta Académica, razão pela qual seria impensável que houvesse qualquer outra proibição não expressa.
Ao querido leitor mais atento poderá ter saltado aos olhos uma interessante contradição, entre os seguintes factos: 1) de eu ter afirmado no artigo que anteriormente publiquei que " (...) em algum momento do primeiro trimestre de aulas já conhecia melhor o Código da Praxe do que todos os meus amigos de anos anteriores ao meu (...) " e 2) de me ter, apesar disso, deixado enrolar pelo supra esquartejado mito. Alego apenas em minha defesa que apesar desse conhecimento de que me gabo e orgulho, naturalmente que aqui e ali terão havido pormenores e interpretações que só com o tempo e com a troca de ideias com outras pessoas se foram tornando claras. Este foi obviamente um deles. Quem sabe se ao longo dos próximos textos me lembrarei de mais.
Não resisto a lembrar, para terminar, o que sucedia quando alguém - caloiro ou não - se atrevia a dizer, nos anos que se seguiram, à frente de um elemento da TTIS algo no género:
- Mas o caloiro não pode usar Capa e Batina...
Logo um de nós desmontava, ponto por ponto, toda e qualquer argumentação - algumas com requintes mirabolantes - com a lógica dos factos que atrás relatei. E assim cumpria a TTIS o seu papel de guardiã da Praxe, da verdadeira Praxe, com o que os seus elementos grangearam muitas inimizades para longos anos.

3 comentários:

Carolus Alvus disse...

Relativamente aos referidos "requintes mirabolantes" com que Logo se "desmontava, ponto por ponto, toda e qualquer argumentação", não me posso esquecer da célebre conversa que um dos nossos(na altura ainda matriculado no primeiro ano e pela primeira vez na Universidade de Coimbra...), manteve com um desses "entendidos em tradições académicas". A situação foi mais ou menos esta:
(Ignorante) - Oiça lá, oh caloiro, então não sabe que não pode andar de capa e batina?!
(AC) - Essa agora? Então e porquê?
(Ignorante) - Porque não. Está no Código da Praxe.
Não sei bem se foi esta a primeira justificação ou não, mas também não é importante... Continuemos:
(AC) - Ah, isso é que não está!
(Ignorante) - Err... Pois, mas tens que usar uma peça de roupa do avesso.
Mais um "mito dos ignorantes", este francamente não consigo imaginar onde é que o foram buscar, se calhar é por causa das bruxas...
(AC) - Isso já é outra coisa! Então não há problema porque eu trago uma peça de roupa do avesso.
(Ignorante) (aqui verdadeiramente satisfeito com a sua sapiência)- Ai sim? E que peça é?
(AC) - Trago as cuecas.
(Ignorante) - Então mostra lá.
(AC) - Era o que faltava! - disse mostrando o Código da Praxe - Está aqui escrito que "a roupa interior não está sujeita a revista"...
E com isto virou costas deixando o "sapiente doutor" visivelmente arrependido de ter dito tamanho conjunto de asneiras.

Anónimo disse...

Pois bem, no meu primeiro ano ( 2006 , sim porque nunca fui caloiro, no momento em que entrei para o Coral, vesti Capa e Batina logo nas primeiras semanas.
Estive sujeito a todo o tipo de comentários, desde "arrogante" a desrespeitador da praxe.Alias, pior do que isso, o caloiro pode andar só porque está na tuna... ( enfim..)
A minha sorte é que no meu ingresso na UC, fui logo ensinado pelos Dr. Carlos Góis e pelo Dr. Macho, a não ligar a essas personagens e a ler o código da praxe( porque afinal não dói ). Como tal percebi que os mitos que eram difundidos eram mascarados de ignorância, copiados de institutos politécnicos desprovidos de qualquer tradição, ou até mesmo código da praxe.

Como tal só queria deixar o meu testemunho que passados tantos anos ainda continua a acontecer o mesmo. mas sendo contudo mais raro, porque actualmente só praxam Dr.s do Coral e pessoal amigo. logo esses mitos desvanecem-se contudo a praxe é cada vez mais rara..... lamentávelmente.

Dr. Ténius Brutus

Anónimo disse...

#sem código de praxe ( penultimo paragráfo)