18 julho 2006

Os mitos dos ignorantes - II parte - “Tu para mim serás sempre caloiro”

Ser caloiro era (e suponho que ainda seja) uma coisa horrorosa e indizível. Tanto que uma vez chegados a Pastranos, o que acontecia no dia do Cortejo da Queima das Fitas do primeiro ano em que se frequentava a Universidade, ninguém que se prezasse admitia mais ser chamado de caloiro.

Aliás, a nossa teoria de verdadeiros praxistas era a seguinte: um ser tão belo, magnânimo, sapiente e extraordinário como um doutor (designação genérica dada aos estudantes a partir do 2º ano, para quem não saiba e não tenha lido os artigos anteriores) nunca poderia em nenhuma fase da sua existência ter sido uma coisa tão nojenta, execrável, malcheirosa e repugnante como um caloiro. Logo, deduzíamos, um caloiro nunca poderia tornar-se doutor, nem um doutor jamais fora um caloiro. Quando expúnhamos esta teoria aos caloiros eles perguntavam-nos desde logo:
- Então o que é que vocês foram no primeiro ano em que estiveram na Universidade?
Ao que nós respondíamos triunfalmente:
- Fomos “primeiranistas”.
A categoria de primeiranistas na verdade não existe nem nunca existiu, mas era a forma que tínhamos para resolver o imbróglio causado pela impossibilidade de sermos estudantes da Universidade sem termos sido caloiros. Obviamente que no final do ano esses caloiros deixavam de o ser (apesar do que lhes havíamos ensinado) e no ano seguinte a lenga-lenga repetia-se já com estes caloiros tendo sido primeiranistas como nós fôramos - e nunca, jamais, em tempo algum caloiros!!!

Bom mas tudo isto para entrarmos no mito número dois dos ignorantes (em termos de PRAXE) que de vez em quando lá nos chamavam caloiros quando nós já éramos doutores. Ohhh insulto dos insultos. E quando nos insurgíamos lá vinha a sua rápida e pronta resposta baseada no facto de terem entrado na Universidade antes de nós:
- Tu para mim serás sempre caloiro.
AHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!
Lá lhes explicávamos, aos mais velhos a razão simples pela qual não podíamos ser sempre caloiros para eles: pura e simplesmente porque não admitíamos, à luz da lógica anteriormente exposta, que algum dia sequer o fôramos. Mas mesmo aceitando que a nossa lógica era viciada, certo é que depois de deixarmos de ser caloiros – e volto a frisar que eu nunca fui caloiro, fui primeiranista – não mais aceitávamos que assim nos chamassem.

1 comentário:

Carolus Alvus disse...

Quando ouço ou leio esta (tristemente) célebre frase que dá título ao presente artigo, lembro-me sempre do diálogo ocorrido entre o TC e um indivíduo com algumas matrículas a mais que ele.
Após ser chamado de caloiro, TC, visivelmente irritado, respondeu: "Não sou caloiro, sou semi-puto" (creio eu que seria o grau dele na altura...).
A resposta pronta não se fez esperar: "Para mim serás sempre caloiro".
Nessa altura, TC, com a piada que o caracterizava em certas ocasiões, disse: "Pois para mim serás sempre um naftalinoso!"
Para quem não sabe, o termo "naftalinoso" era utilizado pela comunidade praxística para descrever aqueles estudantes que só usavam a capa e batina nas festas (queimas, latadas, jantares de curso e pouco mais), vá-se lá saber porquê...