27 setembro 2006

Roubos

Como todos os estudantes de Coimbra (excepto os muito, mas mesmo muito enfezadinhos ou muito ursos, como a outra que, para festejar o facto de ter acabado o curso, foi tomar um café ao “Madeira” e depois voltou para casa), os heróis da Tesoural Tertúlia Irmandade das Sombras também roubavam sinais (e tudo o que viesse à rede!). Revelo aqui em primeira mão que, quando o Marralheiro era “primeiro anista” (sim, tal como eu, ele nunca foi caloiro!), de cada vez que eu passava perto da casa dele com a bebedeira, roubava as molas todas do estendal da vizinha de trás (no dia a seguir, quando punha as mãos aos bolsos da batina, via logo que tinha passado lá à noite…); e um dia roubei (ou foi outro de nós, já não me lembro) umas cuecas de mulher, que foram postas no altar da Irmandade, no Convénus Mustinto; também as placas com o número da porta do vizinho de trás desapareceram de lá duas vezes… por acaso não tínhamos nada contra o vizinho - que eu nem conheço – mas as coisas estavam ali tão à mão de semear…
Bem, é verdade que de boas intenções está o inferno cheio, mas a verdade é que não tínhamos má intenção mesmo, e se o Diabo esfregava as mãos de contentamento de cada vez que roubávamos qualquer coisa, confesso que o chifrudo gastou as palmas das mãos por causa do pessoal da Irmandade das Sombras!
Assim falando, passo agora a contar alguns dos mais engraçados roubos que perpetrámos.
Uma vez, tínhamos ido actuar (ou talvez fosse apenas ir a um baile qualquer) e voltávamos já com os copos no carro de um dos nossos. Ao passar em Ançã, na recta do restaurante “O verdadeiro Pingão”, ao passar à frente do dito restaurante a uma velocidade razoável, apercebemo-nos de que havia lá um reclame ao gelado “Magnum” e logo decidimos que aquilo devia vir connosco para casa. Parou-se o carro, eu saí e fui a correr buscar o reclame, que era constituído por uma tábua (ou talvez fosse em pvc) e uma parte de baixo que era um depósito de plástico que se enchia de água para manter o sinal quieto e não ser levado pelo vento, peguei no “animal” e toca de o meter dentro do carro, sem que se fizesse alarido, sem demorar tempo nenhum e sem custar nada. Chegados a Coimbra, toca a descarregar no Convénus, junto ao portão, em baixo (o Convénus tinha um portão que dava para um corredor, no R/C, e depois tinha umas escadas pelas traseiras para o primeiro e segundo andares, pois o R/C estava arrendado a umas senhoras velhacas (sobretudo a filha) e que também têm umas histórias engraçadas. O pior foi levar o reclame para o primeiro andar no dias a seguir, já sem os copos a ajudar! Aquilo pesava que nem chumbo, mas com os copos não custou nada! (Faz lembrar uma história que lemos num livro de memórias de antigos estudantes de Coimbra, onde um estudante roubou uma coisa qualquer numa noite de forte bebedeira e levou-a para casa; como o senhorio não achou graça e mandou devolver, ele assim tentou, mas não conseguiu; teve que apanhar outra forte bebedeira para conseguir voltar a ter força para o fazer).
Numa serenata (ou da Queima ou da latada, já não me recordo) apanhei uma bebedeira (como era hábito) e fui até à zona das faculdades, uma vez que eu não tinha muito o hábito de ir mesmo até à serenata, pois era muita confusão, apanhava-se ali uma grande estafa e nem sequer dava para estar a beber em condições... Mas, como sempre, lá andava eu no meio da grande animação do fim da serenata e, claro, lá me perdi do pessoal com quem estava (que já não me recordo de quem eram) e decidi voltar para casa, para os Olivais (aproveito para lembrar que os telemóveis são coisa muito recente). Descobri então, mesmo ao cimo das escadas monumentais, umas obras que tinham umas tábuas pintadas às riscas brancas e cor-de-rosa fluorescentes, a fim de evitarem que alguém caísse para dentro do buraco aberto no chão. Resolvi levar uma dessas tábuas para o Convénus e assim o fiz; acontece que o Convénus ficava por trás da GNR, na Av. Dias da Silva e eu tinha que passar em frente à “bófia” e era muito provável que me vissem com aquilo; tive então a brilhante ideia de tapar a tábua com a capa. Então, de tábua ao ombro (uma tábua de alguns 2 metros) e com a capa a embrulhar a ponta, lá fui eu, bêbedo e todo confiante, passar à frente da GNR, convencido de que ninguém topava a tábua, que era visível a milhas!
Mas chegámos mesmo a roubar um sinal de obras da EDP mesmo em frente da GNR, numa noite em que, após muito namoro ao sinal, a luz falta na avenida precisamente quando íamos a passar ao pé dele; certo é que quando a luz voltou, pouco tempo depois, o sinal desaparecera misteriosamente da frente da GNR.
A nossa fama de ladrões de sinais chegou longe e aconteceu-me um dia estar no bar da FEUC e o Sr. Carlos (o que explora o bar) se vir sentar ao pé de mim e perguntar-me se eu me importava de roubar o sinal de estacionamento proibido, pois já tinha lá sido contra-ordenado várias vezes. Prometeu dar-nos algumas cervejas e, passados alguns dias, o sinal já lá não estava nem a cerveja no barril do Sr. Carlos! Mas esse foi canja, pois era de acesso muito fácil por trás e, ainda por cima, ficávamos mais ou menos escondidos no acto. Até me pergunto como é que não o tínhamos roubado antes, mas ainda bem que o não fizemos, senão não tínhamos mamado as “súrbias”.
A roubalheira era tanta que, a determinada altura existiam mais de cinquenta sinais ou anúncios de obras ou de publicidade no Convénus Mustinto. Acho que aquilo já era compulsivo, sempre que víamos um sinal onde houvesse qualquer forma de lá chegar, era sinal roubado!
Também há muito mais histórias a contar de roubos que fizemos, mas deixemos a palavra a outros.

4 comentários:

Anónimo disse...

Ah Grande Batinas!

Muito me diverti a ler este teu post e a recordar os belos tempos da FEUC e de Coimbra.
Agora já não se faz nada disso nem se tem o mesmo espírito. Ou muitos poucos ou muito raro.

Abraço,

Anónimo disse...

"o chifrudo gastou as palmas das mãos". Lindo!

Batinas disse...

Obrigado pelos comentários. Tenho pena de não ter mais tempo para aqui vir contar mais histórias de Coimbra, mas, aos poucos, cá vai saindo qualquer coisa. Já agora, gostava de saber quem é o "unapluriaac".

Alberto Correia disse...

Histórias e mais histórias que em cada frase um gargalhada das fortes. Deves ser tão fresco quanto o magnun da Olá