22 julho 2008

O Margaças

O Margaças era um tipo meio maluco, de engenharia informática, que conhecemos por ser amigo de infância do Marralheiro. Também era do concelho do Carregal do Sal, mas, ao contrário do Marralheiro, não vinha da sede de concelho, vinha de Cabanas de Viriato. Era um gajo porreiro, mas quando bebia ficava completamente transtornado, não sabia o que fazia. Certa vez, com a bebedeira, pôs-se a correr na beira do depósito de água dos Olivais, na altura em que o pessoal andava com a mania de lá ir a cima (eu não, pois tenho vertigens e não era capaz). Outra vez, com a bebedeira, e sendo caloiro, lembrou-se de dizer que queria rapar e praxar caloiros; estávamos à porta do café Madeira e ia um velhote a passar; logo o Margaças o agarrou pelo braço (sem ser à bruta) e lhe perguntou: “O Sr. é caloiro?”; resposta do senhor: “Eu? Eu já sou velhote…”.
Mas as melhores (ou piores) do Margaças, foram outras.
O Margaças era muitas vezes convidado para as nossas Festas do Litro Y Meio, e ia sempre que podia. Certa vez, já com uma bebedeira monstra, deu-lhe para saltar para o telhado da vizinha do lado e pôr-se a correr pelo telhado fora; a mulher veio cá fora e desatou a berrar com ele e a dizer que ia fazer queixa à minha avó (que era a senhoria), que já não bastava estarmos sempre a vomitar para o telhado dela... Naquele dia a festa acabou e fomos logo todos embora dali o mais depressa possível. Passados dois ou três dias (para não levantar suspeitas), fui a casa da senhora, perguntar-lhe se ela tinha ouvido ali barulho nos últimos tempos; a mulher começou a mandar vir, a dizer que não havia direito de se porem a correr em cima do telhado dela, que ia fazer queixa ao meu pai e à minha avó, e o diabo a sete; fiz-me surpreendido, chocado mesmo com o que se passara; disse-lhe que já não ia ali há algum tempo e que, naquele dia, tinha lá ido e me tinha deparado com a porta arrombada, com a casa cheia de garrafas vazias, que alguém devia ter entrado pelo muro, me tinha arrombado a porta e que tinha entrado lá em casa só fazendo porcaria, mas nem me tinha passado pela cabeça que lhe tinham saltado para o telhado; a velhota acreditou em mim, pediu-me desculpa e acabou por não fazer queixa a ninguém!
Mas a melhor do Margaças foi a nossa ida ao galinheiro, ao fundo da rua Sá Carneiro, que, naquele tempo, não tinha saída e, ao fundo, havia umas casitas velhas com um galinheiro que há muito tempo namorávamos, na nossa tentativa de reviver, em plenos anos 90 do séc. XX, o que os antigos estudantes tinham vivido décadas atrás…
Então, numa noite, decidimos ir lá ao galinheiro. Mas como o Margaças era um bocado mais maluco que nós e não valia a pena irmos todos para dentro do galinheiro, pois até podia atrapalhar a fuga, foi lá só o Margaças, tendo eu e o Marralheiro ficado à espera; o galinheiro era daqueles que tinha uma parte descoberta e ficava num sitio mais baixo do que a rua, por isso deu para ver o Margaças entrar no galinheiro, com muito cuidado, e deu para ver um ganso no meio do espaço descoberto; quando o Margaças lá entrou, o estúpido do ganso começou a fazer barulho e eu vejo o gajo, de repente, deitar ao mão ao pescoço do ganso e preparar-se para sair, com o ganso agarrado pelo pescoço e a fazer uma barulheira desgraçada; nesta altura, vejo o dono do galinheiro a aparecer e a gritar qualquer coisa. Só que era tarde de mais, o Margaças já subia em direcção à rua, com o ganso preso pelo pescoço, a berrar. Nesta altura, eu e o Marralheiro desatámos a subir a rua a correr, com o Margaças atrás. Ao chegar ao cimo da rua parámos e, passado pouco tempo, chega o Margaças, sem o ganso!
- Então, Margaças, que é do ganso?
- Larguei-o! O gajo não parava de fazer barulho pela rua acima e o homem estava para lá aos berros e eu tive medo e larguei o ganso no meio da rua!
Triste desenlace, o desta história. E bastante frustrante, pois o homem jamais viria a correr em pijama pela rua acima e, mesmo que viesse, jamais conseguiria apanhar-nos, calçado com chinelos, a correr atrás de 3 gajos entre os 19 e os 21 anos, cheios de força. E pior, eu já saboreava de antemão um arroz de ganso, enquanto fugia pela rua acima!

3 comentários:

Zé Pedro disse...

Margaças, que toino... Conheço-o bem (meu colega de curso).

Sabes como o conheci? Ele morava à minha frente na Machado de Castro. Um dia, estava eu a fugir de uma multidão (vulgo trupe) e, ao entrar na rua, deparo-me com um cromo deitado no meio da estrada em sono profundo, com os braços abertos como se estivesse a retratar o cristo rei. Claro, um cristo rei podre de bebado e que nao conseguiu avançar mais 500 metros para chegar a casa...

Muito maluco, o gajo :)

Um abraço para o Margaças e para o pessoal do Matxibumbo.

alfabeta disse...

Não conheço a personagem, por isso não posso dizer nada.

ps: tens a resposta da Esmeralda :)

alfabeta disse...

Tens as respostas todas aos comentários, bfs