03 setembro 2008

Algumas considerações acerca do F.R.A.

Tive aqui há tempos uma discussão (no bom sentido da palavra), aqui no blog, acerca do F.R.A.
Na altura, o Sr. Pena louvou a correcção que fiz ao dito grito, corrigindo-me, no entanto, o facto de eu ter escrito “alequá” em vez de “aliquá”. Disse-lhe que tinha lido aquilo num qualquer livro e que lhe diria em que livro tinha lido esta palavra; tentando cumprir a palavra dada, fui em busca, na minha biblioteca de livros sobre Coimbra, do dito livro, mas não o encontrei (não sei onde li, mas tenho a certeza que o li – ainda não estou a ficar doido, acho eu!).
No entanto, e passando por cima da questão de a dita palavra se escrever com “i” ou com “e” – que considero de somenos importância, uma vez que foneticamente dizemos a mesma coisa – a verdade é que encontrei, num livro chamado “Coimbra… ontem! (1945-1951)”, de Octávio Abrunhosa, edição da Livraria Almedina, a seguinte nota de rodapé:

“O F.R.A. foi um grito criado pela Academia de Coimbra, cujo autor julgo ser desconhecido. Destinava-se, sobretudo, a assinalar momentos de grande regozijo e satisfação. Usurpado pelas demais Universidades do País, e não só, por falta de imaginação e criatividade, está transformado num grito da bicharada. Grita-se em qualquer lado e em quaisquer circunstâncias, desde casamentos a baptizados. Creio que, em Coimbra, continua a ser utilizado com uma certa parcimónia. Pena é que nem mesmo os estudantes de Coimbra de hoje saibam gritá-lo como deve ser. É que o F.R.A. deve ser gritado do seguinte modo:- “f-r-a, frá, f-r-e, fré, f-r-i, fri, f-r-o, fró, f-r-u, fru, frá, fré, fri, fró, fru, aliquá, quá, quá, aliquá, quá, quá, chiribiribi, tatá, tatá, chiribiribi, tatá, tatá, urrah, urrah, urrah!”.
Hoje, porém, quando chegam ao “aliquá”, em vez de o fazerem seguir de “quá”, “quá”, somente, gritam (mas mal) “aliquá”, “liquá”, “liquá”, “aliquá”, “liquá” “liquá”. Pobre F.R.A., por que bocas você anda!”

Atrever-me-ia a acrescentar que já nem “aliquá” se diz – agora é “arriquá” – e, lamentavelmente, informar o Dr. Octávio Abrunhosa que ele se enganou numa coisa nisto que disse: não, em Coimbra este grito também já não é utilizado com nenhuma parcimónia. Já para não falar que agora, sem que eu consiga vislumbrar de onde veio tamanha idiotice, todos gritam:
“EEEEEEEEEEEEEEEEEF.R.UUUUUUUU”; parecem ovelhas a balir! (calma, calma! Ainda há-de chegar o tempo em que gritarão “I-Ó, I-Ó”)
No entanto, o que me repugna ainda mais, é aquelas gajas (ou gajos) que de espírito académico não têm nem uma unha, para se mostrarem diante dos papás que incham de orgulho com as proezas e espírito académicos das filhas(os), gritam: “Então com todo o espírito académico, aqui sai um F.R.A.”. É do que mais degradantemente ridículo pode existir: gente que, ao longo de 4 ou 5 anos de Universidade de Coimbra, usa a capa e batina umas 40 ou 50 vezes (e muitas delas é usar no jantar de curso e ir trocar depois, pois “não é prático”; ou usar no cortejo e ir trocar a roupa antes de ir ao Parque), ou andar – como se vê agora – com a cartola e a bengala e à futrica, andar a gritar F.R.A.’s com “todo o espírito académico”! Sinceramente, era partir-lhes o focinho todo!

5 comentários:

J.Pierre Silva disse...

Caríssimo,

O termo "alique" não existe.
Existe, isso sim, o termo aliquem (resultante da declinação de aliquis).

O termo original, que é um pronome indefinido, é aliquis (alguém, algo, algum), embora possa assumir-se como substantivo (aliquis, aliqua, aliquid – algum, alguma, alguém, algo, alguma coisa) ou, ainda, como adjectivo (aliqui, aliqua, aliquod – algum, alguma, algo).

É declinado como QUIS, mas com a adição do prefixo ali-: aliquis, aliqua, aliquod, com a única diferença que no feminino ele faz aliqua, e não *aliquae".

Desculpe-me a insist~encia deste "preciosismo" da forma escrita, mesmo se, como disse, na oralidade todos pronunciamos igual, mas julgo importante que, a ter de se fazer (e escrever), se o faça bem.

Resta, agora, é pensar por que razão este termo existe no grito.

Pessoalmente, vejo isso como uma interpelação (recurso estilístico conhecido por Apóstrofe ou invocação), na ideia de arregimentar, chamar, congregar, reunir a atenção e vontades de todos.

Já o "Chiribiribi" é referente a uma Marcha carnavalesca de Victor 34.115B, interpretada pelo "Bando da Lua", gravada em novembro de 1936 e lançada em dezembro de 1936. (passo-lhe esta informação em exclusividade).

Abraço

Carolus Alvus disse...

De facto, o termo "alique" até é capaz de não existir.
No entanto, acho bastante irrelevante para a presente discussão, visto que, lido com muita atenção o texto, também não o encontro...

Deve ter sido gralha do autor do artigo (Batinas) ou do comentador (Pena (wb)).
:)

J.Pierre Silva disse...

Caro Carlos,

Em momento algum afirmei existir o termo "Alique", pelo contrário, tentei, isso sim, explicar o uso do "Aliqua" (algo que poderá verificar no meu último artigo do blogue Notas&Melodias).
Nesse particular não existe gralha, tal como julgo que o próprio Batinas fala em "alique" como termo usado pro muitos.

Forte abraço.

Anónimo disse...

O FRA (Frente Revolucionária Académica) foi criado por um estudante de coimbra, que, curiosamente, era brasileiro
!!!

Anónimo disse...

Sempre ouvi dizer que vinha já do Brasil, contudo encontrei um texto interessante:
http://guitarradecoimbra.blogspot.com/2005/04/divaldo-gaspar-de-freitas-1912-2003.html