19 agosto 2009

O Ribeirinha

O Ribeirinha entrou uns anos mais tarde que a malta da Tesoural Tertúlia Irmandade das Sombras. Durante o seu primeiro ano nem dei muito por ele, pois confesso que nem julguei que ele era caloiro, tal era a cara de descaramento que fazia quando eu chegava à mesa dos caloiros e que jamais pensei que um caloiro pudesse fazê-la.
O primeiro ano dele passou e nem me lembro de o “praxar” e, em boa verdade, nem lhe dava grande importância.
Comecei a reparar no gajo já no seu segundo ano, numas eleições, creio que para o núcleo de Economia; eu convidava para a lista caloiros do grupo dele para tentar arranjar votos e depois os gajos não faziam nada, não arranjavam votos nenhuns e ainda tinha que andar atrás deles para não se esquecerem de vir votar; nessas eleições a que não concorri, vi o Ribeirinha numa lista e a trabalhar (cacicar) que nem um doido e pensei que teria que o convidar mas era a ele. Nas eleições seguintes (para a DG/AAC) lá fui falar com ele e o gajo veio para a minha lista. A partir daí (já lá vão quase 10 anos) tornámo-nos amigos e ainda hoje temos uma relação muito próxima, sendo ele presença assídua na minha casa da Guarda ou, principalmente, nas patuscadas que vou fazendo em Coimbra sempre que posso, onde costuma ser um dos principais animadores das conversas pelo serão dentro, com as suas sempre acesas discussões com o seu “rival” do costume: o Gillette.
Ora, o Ribeirinha que me perdoe, mas hoje vou contar aqui algumas das suas histórias (algumas bem duras, mas ele que esconda este blogue da família ou das gajas que arranje – se bem que estas últimas não deviam tomar estas histórias em consideração para avaliar o Ribeirinha, pois cada um tem o seu passado e, no fundo, apesar de parecerem duras, estas histórias acabam por ser inocentes).
Parece que estou a ver o Ribeirinha no D. Dinis (DD), com a sua “bebedeira monstra”, com o nariz muito vermelho, com os olhos meio abertos e com a cabeça inclinada para a frente, com um copo de cerveja na mão! Uma das vezes que lá fomos, passam umas gajas por nós, ao que o Ribeirinha diz “não sabia que as flores andavam!”; as gajas pararam entre exclamações “Ahhhh!” e disseram, dirigindo-se para ele, “que bonito!”, enquanto eu soltava o golpe de misericórdia “Ribeirinha, telefona a Deus e diz-lhe que estão a cair anjos do céu”. Elas ficaram muito derretidas e estiveram muito tempo à conversa connosco, mas acabou por não acontecer nada (infelizmente, não é?).
O nosso herói (e eu), a dada altura, andava muito com a mania de se roçar em gajas, sobretudo no D. Dinis; mas isto não lhe bastava, ainda gostava de lhes dizer para se roçarem e de lhes chamar p…s (em dada altura, parecia que a palavra “p…” era o ponto final das suas frases). Ficou famosa a sua frase “Isso! Isso! Roça, roça, p..!”; essa frase ainda mais famosa se tornou quando, estava o nosso herói no DD numa zona apertada de passagem para que elas se roçassem nele (chegava-se à frente, o velhaco!) e vem uma gaja a passar, ao que ele lhe diz “Isso! Isso! Roça, roça!”; a gaja olha para ele e diz “cabrão!”; resposta do Ribeirinha “p…!”.
De outra vez, também no DD, estava lá uma gaja a dançar e, acho que olhou para ele, ao que ele diz, bem alto, sem contar com uma paragem momentânea entre duas músicas “tu estás a olhar, mas to f… que eu sei, p…!”.
Uma vez vi na televisão um documentário qualquer onde o Pinheiro de Azevedo, acerca de uns boatos quaisquer, disse que já tinha sido raptado duas vezes e que não gostava de ser raptado – “chateia-me” – dizia ele. A partir daí, qualquer coisa de que se falasse o Ribeirinha dizia que não gostava, que o chateava… Então surgiu outro diálogo famoso:
- Ribeirinha, gostas de f….?
- Não, pá, chateia-me!
De outra vez estávamos na faculdade mais uma malta e, não sei por alma de quem, decidimos ir até minha casa beber umas cervejas, pois ficava mais barato; o Ribeirinha não queria vir, mas como todo o pessoal decidiu vir, ele acabou por ceder. Estava a cair uma chuva miudinha, mas lá fomos; quando estávamos a malhar cervejas na minha cozinha, a chuva aumentou de intensidade e o Ribeirinha, em jeito de lamentação, diz, como se fossemos culpados de tal facto, “está a chover cada vez mais, pá; estes gajos…”. Foi risada geral.
Outra vez, estávamos no bar da nossa faculdade e estávamos com o pessoal do Coral Quecofónico do Cifrão – Tuna da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, e o Marralheiro estava com uma viola na mão, a dar dedadas (pois ele, tal como eu, não sabe tocar) e o Ribeirinha vira-se para o Marralheiro, tira-lhe a viola e diz: “Toca mas é qualquer coisa em condições. Por exemplo, as Dunas” e desata a tocar as Dunas, ao que eu e o Marralheiro, entusiasmados por ele saber tocar viola, dissemos-lhe que se ele sabia tocar podia entrar para a Tuna. Acontece que não, ele não sabia tocar mais nada do que as Dunas e não sabia uma nota do tamanho de um boi; apenas tocava aquela música e era decorada, apenas sabia onde pôr os dedos, sem saber se estava a tocar um dó, um ré ou um mi. Felizmente, mais tarde, e após ter subido muitas vezes a palco connosco, ter participado em tantas e tantas actividades do Coral, ter feito tanto pela nossa Tuna em diversas ocasiões, acabou por se lhe reconhecer o mérito, tendo-lhe sido atribuído o título de Antigo Coraleiro Honorário.
O Ribeirinha era (e é) um indivíduo a quem às vezes dava umas ideias que ia buscar não sei aonde e aparecia com aquelas teorias que eram, muitas vezes (a maior parte), desmontadas pelo pessoal, sobretudo nas nossa patuscadas em minha casa. Um dia, estivera a falar com o professor Joaquim Feio a propósito do pessoal que gosta muito de dizer “prontos”; a teoria do Ribeirinha, segundo ele dita pelo Feio, é que “prontos” não se dizia, que era uma palavra que não existia. Confrontado por mim com a frase “Nós estamos prontos para partir”, insistiu que não se dizia a Palavra “prontos” e, perguntado como se dizia então aquela frase, respondeu: “Nós estamos pronto…”. Mais uma vez, risada geral!
Houve uma altura em que eu costumava fazer equipas para participar (e ganhar, normalmente) no Peddy Tascas. Como comecei a ganhar muitos, o Ribeirinha começou a fazer equipas rivais, a ver se nos destronava (o que nunca conseguiu). Ora, sabendo que nós costumávamos fazer uma pequena batota, que era ter um gajo de carro que nos ia buscar à baixa e levar para a Associação Académica (poupava-se um tempo imenso e decisivo), o Ribeirinha chega ao Jardim da Manga e apanha o primeiro autocarro que lhe aparece, com o fim de ir até ao Gil Vicente; só que ao chegar ao cimo do mercado, o autocarro virou para a rua de Saragoça! Com a pressa, o Ribeirinha nem tinha ligado ao nº do autocarro e teve tanto azar que apanhou o único que não ia para a Praça da República! Desesperado, levanta-se do autocarro e tocou à campainha para saír. Saíu na paragem seguinte e lá vem ele a correr pela rua de Saragoça abaixo; nos semáforos, bêbado, dirige-se ao primeiro carro que lá estava parado e pediu boleia para a AAC, sem conhecer o gajo de lado nenhum e lá lhe deram boleia. O resultado, no entanto foi o mesmo de sempre: a minha equipa ganhou e a do Ribeirinha ficou em segundo.
Lembro-me também de uma vez em que, numa das nossas patuscadas, ele chegou a minha casa e, num repente, foi direito ao saca-rolhas e desata a abrir uma garrafa de vinho e a dizer: “Estou cheio de fome. É melhor abrir isto depressa e começar a beber, pois pode ser que seja sede…”.
Tivemos ainda umas histórias relacionadas com “tachos” na DG/AAC, chegando mesmo a concorrer em listas diferentes, de forma a garantir o “tachinho” (que era remunerado) e dividindo o pecúlio a meias, caso ganhássemos (o que aconteceu).
Mas é um indivíduo muito porreiro, é um grande amigo que tenho e, quando fui para Erasmus, foi ele que ficou cá meu procurador para qualquer problema que existisse em Portugal e para assinar o que fosse necessário por mim. Foi ele que tratou de pedir (e pagar) o meu diploma e o meu certificado de habilitações da licenciatura, pois na altura eu andava por Lisboa e não tinha como ir a Coimbra; claro que lhe transferi o dinheiro, depois! Para a conta da Suíça em nome de Moreira Salgado, para onde dizíamos que ele transferia dinheiro que desviava da AAC quando era administrador! Bons tempos…

4 comentários:

Macho disse...

Ainda havia mais.
Até chamavamos a frase ou boca da queima desse ano:
"Foder putas? nunca mais!",
"E a gaijas?.. muuuuuiiiiiito puuuuuutaaaaaaas".
Outra foi aquela em que disse a uma gaija: "Queres dançar?"; e ela: "não"; e ele: "entao foder está fora de questao?".
E quando iamos para Cantanhede, para a bubadeira - não sei se foi o caso, mas nessa altura o Ribeirinha tinha o habito de beber à tarde - quando, após pagarmos a portagem, em plena estrada nacional, passa um carro em sentido contrário (na sua via) e ele diz muito assustado enquanto apita e se chega p borda: "Olha-me este gaijo em contra-mão..." .

Lino Pires disse...

Ainda havia aquelas noites memoráveis do couraça nas segundas onde íamos, segundo o Ribeirinha, beber uma cervejita...e acabavamos por saír com uma grade no bucho...e daí para o DD ver o Fausto...
Ou ainda lembro-me de uma noite em que fomos festejar os anos do Ribeirinha à Passerelle... Então fizemos uma vaquinha por todos para lhe pagar uma Private...(sim, que o Riba sempre gostou muito de olhar para cona de gajas nuas... porque foder..."chateia-me!!"), sei que acabamos a noite a pagar privates uns aos outros e eu ainda adormeci na que me pagaram...
Ou ainda a maneira muito peculiar de o Riba disparatar com o pessoal, quando nos atrasavamos...chegava lá a casa, via o Pinguço ainda a coçá-los e nós sentados a ver tv... e passo a citar..."Então, caralho, ainda não... foda-se, é sempre a mesma merda, vamos embora pá...eu vou-me embora...eu vou-me embora..!!estes gajos é sempre a mesma merda" (isto a andar, feito barata tonta, de um lado para o outro)... depois davamos-lhe uma cerveja e lá se acalmava...
E mais que, quando me lembrar, escrevo...

Anónimo disse...

Ribeirinha=ladrão

Ricardo Pina disse...

Grandes histórias aqui estão neste blog. Ao ler algumas delas faz-me imaginar como eram os tempos antigos. Por exemplo, vocês sabiam que o DD já fechou há 2 anos? Eu por acaso ainda tive a sorte de apanhar o DD aberto, era um sítio espectacular! Aquelas trupes perto do DD...