11 abril 2012

Em defesa da PRAXE - texto 2

"A constituição é um pedaço de papel, as restantes leis da República,a carta de direitos do homem, dos animais, dos doentes (e muitos outros), ospactos sociais, os estatutos das associações (mesmo as pseudo-secretas os têm) são pedaços de papel. Que valor têm? O que as pessoas que as seguem lhe quiseram dar! Para quem não faz parte do estado, organização ou grupo, têm apenas valor de estudo, critica e, eventualmente, escárnio (é o que se faz ao que se desconhece). Existem porque o ser humano ainda tem um longo trilho até atingir um estado mental que ponha a razão acima de toda a animalidade (aqui ponho todos no mesmo saco, há e haverá ainda muita gente anti-isto, anti-aquilo, que não gosta só porque lhe dizem que não, que nem sequer ouve, que faz leitura selectiva, enfim que tem ego próprio e não global).
Ora se há praxe (e acreditem que nas suas múltiplas formas ela existe a par com a humanidade), a Academia Coimbrã foi regulando a sua Praxe. O que é? Um pedaço de papel? Também, mas para quem a vive, contêm meia dúzia de princípios (sim, não é muito extenso), que orientam a sua prática e permitem impedir os energúmenos de a usarem para justificar distúrbios pessoais(como o caso do coiso que bate em mulheres). Também é verdade que este código ainda poderia ser mais sintético, estar melhor escrito e ser mais feliz nos seus graus de praxe (candeeiro, porra de nome!), mas no essencial, ou seja, o respeito pelo estudante de Coimbra, está lá tudo. Não é concerteza por acaso que isto acontece em Coimbra (a capital por natureza do sentido crítico, da questão e dos princípios), o dito código, o tal papel, sofreu evoluções, tal como a academia em que gira, mas manteve princípios básicos, infelizmente não acompanhados por pelas academias futricas do resto do país. É a falta, noutros lados, destes princípios que permite toda uma série de abusos, já aqui relatados, e rejeitados quer pelos anti-praxistas, quer pelos praxistas coimbrões, quer por toda a gente de bom senso. Faço apenas um parêntesis para reforçar que, se a malta se ouvir um bocadinho, vai ver que as diferenças de pensamento não são assim tantas.

Há dois princípios base na praxe coimbrã. O primeiro, vem de sempre, que é o já famoso homem praxa homem e mulher praxa mulher. Isto coloca as hormonas ao lado da praxe e pretende impedir, por exemplo, a coação sexual (ainda assim há quem não perceba, mas para isso temos as punições da praxe e, sobretudo, o Código Penal da República). O segundo, em parte mais recente, é o respeito pelo corpo, pelo físico. Está impedida desde sempre aquela parvalheira, corrente em muitos estabelecimentos de ensino superior, de pintar o corpo, quantas vezes com requintes sádicos de tintas que não saem com a lavagem. Pessoalmente, foi este pequeno detalhe/pormenor que me trouxe à praxe coimbrã. Vi muitas vezes esta prática abjecta no estabelecimento de ensinosuperior da cidade em que cresci e sempre a considerei desprezível, quandocheguei a Coimbra e me deram a conhecer os seus princípios base, fiquei chocado, afinal aquilo com que não concordava não era praxe, logo não foi difícil entrar neste barco. Mas não são só as pinturas, toda caçoada que implique agressão física, risco físico ou de saúde já foi posta de parte (aqui, obviamente mais recentemente, 20/30 anos, pois em tempos idos era duro), reflectindo a evolução de princípios básicos e respeito pela dignidade humana.Enfim, ficou a tal meia dúzia de princípios básicos e outra meia dúzia derituais iniciáticos e de relacionamento entre todos aqueles que, LIVREMENTE, queiram aderir a esta PRAXE.

Esta PRAXE, porque nasceu e vive num sítio especial, COIMBRA, que já era humana, conseguiu evoluir e estar, portanto, acima das praxadelas que pululam por outros lados. Infelizmente, porque Coimbra é o berço da praxe estudantil, quando há quem faça asneira com a praxe (seja em Chaves ou em Faro) todos pensam logo nesta academia e nesta cidade. Pior, como raramenteestas coisas acontecem por cá, quando um frustrado comete um crime e bate emmeninas, os olhos todos se viram em forma acusatória e inquisitória. E aqui, infelizmente, o órgão responsável, apenas naquele papel que “não vale nada”, poderia ter tido uma outra postura, agindo de imediato contra o agressor, nãopenalizando a PRAXE. Felizmente ainda está a tempo de mudar. É o problema de o DUX em Coimbra também ser diferente dos outros (as coisas evoluíram igualmente e não tem que ser o veterano de mais matriculas, desculpem a repetição, mas hágente que se recusa a ler o que os outros escrevem), tem poucas matrículas,talvez se tivesse mais matrículas agisse com punho mais forte (preso por tercão e por não ter). Ainda assim, prefiro também esta particularidade da PRAXE coimbrã. Os restantes veteranos lá estarão para o apoiar e para colocar a praxeno seu lugar.

Por último um comentário sobre os graus hierárquicos, a talestratificação da praxe. Caros detractores da PRAXE coimbrã, aquilo resolve-seapenas em três anos. Com Bolonha, ao fim de 3 anos e 1 dia, temos veterano/a. Nenhum déspota o seria se soubesse que só seria “superior” por 3 anos. É outra virtude da PRAXE coimbrã. Além de todo o respeito pelo ser humano, mesmo a hierarquia estudantil morre ao fim de 3 anos (na praxe só é fixa a hierarquia académica/docente, mas nunca vi ninguém a questioná-la, porque será?). Não percebo tanta perturbação que esta pequena estratificação, temporária, quandoem muitas entidades, mais o menos legais, mais ou menos secretas, existemhierarquias ou permanentes ou de mutação muito longa e rígida. Estou, porexemplo, a lembrar-me da relação entre os professores catedráticos e os seus assistentes, ou mesmo a postura de muitos assistentes (e alguns, poucos, catedráticos) para com os alunos.

Enfim, se em vezes de se querer “matar” a PRAXE de Coimbra, se olhasse para todos os seus pontos positivos, poderia usar-se como exemplo deevolução para todas as praxadelas, ditas académicas, que rodam pelo resto do país. Poderia dizer-se “botem os olhinhos em Coimbra e no que aqueles moços e moças fazem”. E, acreditem, a PRAXE coimbrã irá continuar a evoluir num sentido cada vez mais humanista. É estando dentro da praxe que consegui mobilizar pessoas que têm pontos de vista comuns e que conseguimos juntos arrepiar caminho. É dentro da praxe que a fazemos caminhar e impedir a sua imutabilidade. Criticando-a também conseguimos fazê-la pensar. Tentar matá-la só vai originar radicalismo e prejudicar todos aqueles que vão fazendo um bom trabalho. Volto a uma das minhas ideias chave, Coimbra é simultaneamente a cidade e a académicamais humanista deste país, portanto a sua PRAXE só pede beber da mesma fonte.

Finalizando, pelo que me apercebo quem essencialmente faz asneiras/praxadelas não é de Coimbra e quem mais ataca a praxe também por cá não andou ou viveu. Passem cá uns seis meses e misturem-se nesta cidade (seja em que vertente for, praxe, anti-praxe ou a dos que se estão marimbando, verão que no fim estão diferentes!).

Eu posso dizer que vivi esta cidade, fui e sou (saudosamente) praxista, estive na sua dinamização, frequentei repúblicas (grandes noitadas de discussão), estive nas lutas académicas dos meus anos, trouxe e levei experiências, ganhei e reconheci respeito."



publicado no fórum em 08/04/2012

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